Antisegregação Asilar

Movimento pela valorização afirmativa de que a organização pessoal da pessoa idosa faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global.

sábado, 1 de maio de 2010

Exuberância, uma dieta balanceada para a vida.

Uma vida inteira de atitudes libertárias não se perde ao envelhecer. Há de ser mais intensificada. Se omitir é a própria morte. Ser trancafiado/a em uma "casa de repouso" é viver uma sentença de morte; é viver a experiência de estar no corredor da morte rumo à sala de execução. Envelhecer nos diz que a vida não terminou. Que dela tem muito a ser resignificada. É claro que não existe uma vida em si cuja essência é positiva ao extremo. Não se deve preservar a vida a qualquer custo. Há sim uma vida cheia de dores, tédio e desprazeres, que quer se expandir. E nessa expansão ela pode encontrar seu fim. Como o lado negro da luz potencializando seu belos raios. Que assim seja, morte por exuberância e não morte por inanição.

"O homem que está a levar com gás pimenta nesta manifestação na  Grécia (foi a 5 de Março) tem 88 anos, chama-se  Manolis Glezos, com 19 anos, em 1941, subiu à Acrópole e derrubou a Bandeira Nazi que lá estava... E este homem que foi torturado e preso por ter desafiado a ocupação Alemã, é agora gazeado por combater o "Programa de Estabilidade" apoiado pela Chancelaria Teutónica, passados 60 anos a história não se repete, mas Evoca-se!"

Leiem aqui o texto na íntegra o qual foi extraído o trecho acima.

Leia Mais ►

terça-feira, 23 de março de 2010

Se achas que pode sacanear aposentados...

NOTÍCIA: (retirada do site Último Segundo em 24.03.2010)

Quatro aposentados alemães foram condenados nesta terça-feira pelo sequestro de um consultor financeiro, a quem culparam por prejuízos que tiveram em investimentos no mercado imobiliário americano. 

 Wilhelm Drescher (61 anos), Roland Kaspar (74), Sieglinde
Dittmann-Kaspar (80) e Iris Fleischner (64), condenados nesta terça

O juiz no tribunal na cidade alemã de Traunstein concluiu que os quatro réus, com idades entre 61 e 80 anos de idade, atacaram em junho o consultor James Amburn e tentaram obrigá-lo a indenizá-los em 2,5 milhões de euros.

Depois de prender o consultor, os aposentados o levaram para uma viagem de 450 km da casa da vítima na cidade de Speyer, no sudoeste alemão, até uma casa no sul da região da Baviera (sul da Alemanha).

No caminho, Amburn foi espancado quando tentou escapar, tendo duas de suas costelas quebradas. Ao chegar ao destino, perto do lago Chiemsee, os idosos o prenderam em um porão. Os aposentados queriam forçá-lo a assinar documentos prometendo devolver o dinheiro que perderam nos investimentos.

O crime só foi descoberto após o consultor conseguir esconder um pedido de ajuda à polícia em um fax enviado a um banco suíço, em que solicitava que o dinheiro fosse liberado.

Sentenças
Os acusados disseram que haviam convidado Amburn para uma curta viagem de férias na Baviera. O juiz considerou os réus culpados de vários crimes como sequestro até lesões corporais.

O líder do grupo, o arquiteto aposentado Roland Kaspar, de 74 anos, foi condenado a seis anos de prisão.

Um dos cúmplices, um empresário de 61 anos, foi condenado a quatro anos. Duas mulheres, incluindo a esposa de Kaspar de 80 anos de idade, também foram condenadas à prisão, mas com sentenças suspensas. Outro réu, de 67 anos de idade, não foi julgado por motivo de saúde.
____________

ANÁLISE

Seria delicioso se toda e todo aposentado usasse seu tempo de ócio para conspirar contra as ditas pessoas maduras, na tentativa de salvar a geração de seus netos. Como bons abolicionistas penais que somos, abominamos a sentença legal e ilegítima da Justiça alemã. A dupla de casal de aposentados devem se tornar mito de coragem da chamada "melhor idade". Um mito da iniciativa anciã cujo tal ato seja símbolco de saborosos atentados contra as instituições que vivem da exploração financeira da aposentadoria. Que a posentadoria seja repleta de insurgências gerontológicas!

Leia Mais ►

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 5]: FRACASSO PERMANENTE

A tristesa, melancolia e lamentação são sintomas da sensação de fracasso existencial. A percepção de que envelhecer é sinônimo de desgraça pessoal. A tática atual de mascarar tal sensação é trocar os nomes "velhice" por "terceira idade" e "asilo" para casa de repouso. Não interessa a nomeação, o asilamento é o momento pedagógico da sociedade do educar para a piedade de si mesmo/a. É neste momento que a história de uma vida começa a ser resignificada nos termos da saudade de um tempo perdido. Assim, o presente torna-se passar o tempo. O vivido não é mais possível. Já passou. O agora é um exílio da vida.

As táticas dos asilos, de que o presente da pessoa idosa não seja vivido, são evidentes em suas chamadas atividades de distração e entretenimento. Bailes, corais, educação artística, jogos e brincadeiras ao ar livre, hora de leitura, hora de ver televisão, tudo isso utilizado como instrumentos para retirar a pessoa idosa de suas condições de decisões pessoais. A vida de quem foi asilada torna-se um imenso deserto com pequenos oásis de atividades vibrantes e entorpecedoras. Resultado: jamais se terá momentos para planejar e decidir o momento da saída.

Não há asilo, ou casa de repouso, como queiram chamar, preocupados em fortalecer os mecanismos de autodeterminação da pessoa idosa. O sentimento de ser vivente pleno e pró-ativo é substituído pela amargura e pela sensação de fracasso. A idéia de reduzir o estigma do envelhecimento não é encarado com o devido cuidado e rigor. Caso contrário a preocupação central seria a de tornar possível o fortalecimento, ou a aquisição, de hábitos exigidos de um modo amplo pela sociedade. Assim, o envelhecimento torna-se o movimento gradual de passar do topo de um mundo grávido de possibilidades para o topo de um pequeno mundo rebaixado.

O fracasso torna-se premanente. Pois trata-se do saber em que medida estar segregado/a em uma casa de repouso favorece e conserva a vida. É a sensação de que não se pode mais medir o mundo a partir de condições de vida ousadas e corajosas. Toda "solidariedade", "amor" e "cuidado" pela pessoa idosa chega a hipnotizá-las, a ver a velhice pelo seguinte falso prisma: a vida deve ser vivida à qualquer custo.

___________________
*Foto: Edgar Rodrigues (1921-2009)
Historiador e Anarquista Português
Leia Mais ►

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 4]: A ILUSÃO DE LIBERDADE

Rose Pesotta (1896-1965) : militante anarcosindicalista e feminista

Na condição de asilada, a pessoa idosa é obrigada à recusar sua biografia, como uma espécie de suicídio seguro onde salva-se a vida ao preço de uma ruína mental. Obrigação por trocar suas próprias alternativas de busca de equilíbrio mental, pela proteção, dita eficaz, de um sistema de privilégios. Esse sacrifício é o modo de organização das "Casas de Repouso". Seu método é a ilusão de liberdade. A estrutura é a seguinte:
  1. Prescrições e proibições: a realidade da pessoa idosa passa a operar na dimensão do não-ser. Toda a sua biografia se revela impotente frente às "regras de conduta da casa". Sua percepção real, de tudo o que lhe é apresentada, é considerada inútil. Para a 'boa vida' dentro dessas instituições a pessoa idosa é cegada, de modo que, toda sua sabedoria de vida não voltará jamais, porque já não mais está aí. O que está agora presente é nada mais nada menos do que o acontecimento fatal do viver estritamente conforme as regras;
  2. Satisfações pela obediência: não-sendo mais sua biografia, é estimulado na pessoa idosa o interesse por regalias e afirmações incondicionais às regras de conduta da casa. Pseudo-satisfações para se reforçar a idéia de que a vida levada ali dentro é maravilhosa. Como um tráfico de influências para o esquecimento do mundo perdido pelos processos naturais do envelhecimento. A vida presente da pessoa idosa passa a ser ou uma esperança por satisfações futuras, ou uma contemplação de suas possibilidades;
  3. Castigos pela desobediência: ao desobedecer, o que pode ser um simples ato de recusa, à pessoa idosa é aplicada algum tipo de castigo, qualquer que seja o grau de severidade, cujo objetivo é a privação de si mesma. Tudo o que lhe era próprio no mundo exterior deve ser agora abandonado. Sofrimentos infringidos para restituir as satisfações pela obediência. Tais como a abominável aplicação de castigos ditos que é para o próprio bem da pessoa castigada. Ou, a horrenda pedagogia do adestramento aplicada em animais de circo. Tudo para instituir o quão é terrível o afastamento das regras de conduta da casa de repouso.
Pois bem, esse sistema de privilégios e castigos é o que chamamos de ilusão de liberdade. Os aspectos específicos dessa ilusão assim ocorrem: a vida só começa no segundo lance. Sua realidade é marcada pela definição feita por dirigentes e aliados à segregação asilar. É preciso estar asilada para que haja uma verdadeira qualidade de vida. É preciso que haja uma desatenção à vida para que esta tenha qualidade. Deste modo, a liberdade se conjuga apenas como presente da instituição. Um presente que é dado como ajuda à viver. Um presente que apaga a autobiografia construída no mundo externo em proveito da biografia fatalista das casas de repouso. Estas que nada são mais do que um projeto de colocar a pessoa idosa à distância dela mesma, associando-a a uma outra pessoa que possui a chave da significação do que é envelhecer: o mundo invertido da liberdade. Portanto ilusório, cujo fim é fazer coincidir, em um acontecimento único, a liberdade e a obediência incondicional. O que importa para a segregação asilar é a fragilidade de um corpo envelhecido, que pode não mais dar conta de si mesmo, usada para assegurar suas próprias razões de existir. Quaisquer que sejam estas razões das ditas casas de repouso, humilham o envelhecimento e reafirmar que, se a realidade me incomoda, de pronto desejo livrar-me dela criando manicômios, prisões e casas de repousos.
Leia Mais ►

domingo, 27 de setembro de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 3]: A INFANTILIZAÇÃO

Tal qual a sociedade egípcia dos antigos Faraós, temos duas grandes obsessões institucionalizadas: a eterna juventude e a imortalidade. Assim ambas as sociedades sofrem da mesma ilusão: dominar os processos do tempo. Domínio este monopolizado por específicas instituições controladas, ora por sacerdotes, ora por médicos. Mas há uma diferença fundamental- na verdade, uma inversão fundamental. No antigo Egito se mumificava - a pessoa devia, logicamente, estar morta. Na sociedade ocidental contemporânea, se infantiliza - a pessoa deve, também logicamente, estar viva. E, é curioso pensar que, ambas as palavras são, cotidianamente, utilizadas como termos pejorativos.

Deixemos um pouco de lado a mumificação do mortos egípcios e debrucemos sobre sua (in)versão moderna : a infantilização dos vivos. Em outros termos, pensemos como o desejo de imortalizada e eterna juventude se torna perverso para a dignidade da pessoa idosa.

Ao olharmos para nossos abismos, como uma esfinge eles sempre nos saúdam dizendo: "decifra-me ou devoro-te". Que abismo é este? Chamemos de maturidade. Esse doce mel provindo da experiência e do conhecimento. Apenas ao chegar na velhice é que notamos o tamanho prazer da sabedoria. O tanto que saber, o avaliar e o se recolocar frente à sensação de que a morte se aproxima, traz alegria ao espirito. Tornamo-nos pessoas mais espirituosas. Mesmo que haja uma tentação de sonhar como seria se essa bela sabedoria de vida pertencesse ao belo corpo que tínhamos aos 25 anos de idade. Tornamo-nos pessoas mais completas. A infância, a juventude e a idade adulta passam a ter um valor por si mesmas. Como obras de arte finalizadas. Porém sendo muito mais do que algo a ser lembrado ou mesmo contemplado em terceira pessoa. Todas essas fases compondo um belo, singular e mesmo continuun vital. Essa sabedoria magna é a maturidade. Somente encontrada em uma encosta da vida: a velhice.

Esse fulgor pode muito bem ser apagado. O mais perverso é saber que há instituições especializadas nessa apagamento. Tal ato é um atentado contra a competência e os símbolos da maturidade - a autonomia e a liberdade de ação. A fase adulta sofre um horrendo "rejuvenescimento" : a gradação de idade. As práticas de obrigações específicas a serem realizadas por pessoas idosas, em uma "casa de repouso", atestam tal condição, infantilizando - o processo de obrigatoriamente renunciar a própria vontade. Expressões do tipo, "vestiu a mesma roupa, de novo!", "você já tomou banho?" ou "ainda não está na hora de comer!", podem muito bem anteceder a ação enérgica de "alguém responsável" pela instituição. A higiene, a responsabilidade por si e a escolha pelo seu bem-estar próprio, são controlados, diariamente, com a justificativa de que, há uma incapacidade da pessoa idosa em relação aos seus interesses e desejos.

Voltar à infância é um ato cindido em dois: o aspecto teórico (aquilo que se vê) e o aspecto prático (aquilo que se faz). O aspecto teórico pode até provocar um certo alívio psicológico para alguns - muito já se romantizou sobre ser criança. Porém, a infância não voltará jamais, porque já esteve aí. No aspecto prático, não há como voltar à infância, se não pela perversa infantilização. A invenção desse processo invertido de mumificação é o próprio fardo gerado pelo desgosto com seu ser e, pelo excesso de culpa do eu. Intranquilidade própria da agitação moderna. Não há tempo para que amadureçamos nossos frutos. Na falta de tranquilidade para lidarmos com o envelhecimento, nossa sociedade inventa, às pressas, um conceito de validade geral: o de que a virtude da pessoa idosa é o descanso.

__________________
Foto: Marie-Christine Mikhaïlo (1916-2004)
Bibliotecária, arquivista e documentarista anarquista

Leia Mais ►

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Relato do sr. Hamdan

Eu, Hamdan, 65 anos de idade, nascido ainda na Palestina livre, já vi muita coisa que pessoas comuns e autoridades duvidariam. Essas coisas compõem o pano de fundo que me ajuda a sobreviver. Principalmente no que diz respeito à intuição e ao sentimento que me guiam na escolha de como me proteger e de como devo seguir em frente. O peso da idade me troxe muito conhecimento, assim como me trouxe o cansaço. Estou cansado, com cabelos e barba brancos, me faltam alguns dentes e não ouço muito bem. Minha mente está lúcida, porém precisando de descanso. Mesmo com essa necessidade não posso me eximir quando a situação pede que eu ajude um irmão. É o que neste momento acontece.

Desde que cheguei ao Brasil estou sendo tratado como invalido ou como louco. Em Mogi das Cruzes, São Paulo, o a agência internacional para refugiado e sua parceira no Brasil, a Caritas Brasileira, já me colocaram em um asilo que mais parecia uma prisão. Sou uma pessoa inquieta. Tenho que a toda hora caminhar, beber meu chá preto, fazer minhas orações em voz alta e conversar com meus amigos. Ser jogado em uma instituição, isolado, sem poder me movimentar e em um país que nada conheço é um ato extremo de desumanidade. A Cáritas Brasileira se recusou a me alojar em um apartamento individual. Que eu não canso em dizer que são atos criminosos!

O mais recente crime que estão cometento contra mim agora alcança pessoas que estão me ajudando. Só porquê elas não fazem parte do grupo de criminosos que vêm me taxando de louco e inválido. Só porquê as pessoas que me ajudam não questionam as razões de minhas necessidades. Só porquê as pessoas que me ajudam não me deixam em segundo plano, esperando que minhas necessidades médicas se curem por si só. Não falarei o nome delas aqui, pois acho prudente, pois estão as acusando de quererem se auto-promover.

Criminosos! Ninguém diz o que tenho que fazer ou deixar de fazer. Sei o que quero e sou incisivo! Se não gostam do que digo às claras, ou se não gostam de ver que não me curvo perante vocês é porquê vocês estão jogando com a minha vida e com a vida de meus amigos. É porquê para vocês o trabalho humanitário é mais um jogo perverso de guerra. Se como refugiado tenho direitos, me digam quais são. Se não os tenho também me digam que não tenho. Sejam sinceros ao menos uma vez e digam se são ou não são responsáveis pela minha situação como refugiado. Se não, posso continuar a seguir meu caminho sozinho buscando um outro país que me acolha, já que não posso voltar à minha Palestina livre.

Brasília, setembro, 2008
Leia Mais ►

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 2]: ATAQUE CONTRA O INDIVÍDUO

Círculo reativo. Eis o nome do primeiro ataque sutil sofrido pelo indivíduo idoso ao estar aos cuidados de uma "casa de repouso" (asilo). Esse ataque contra o indivíduo se caracteriza como a repressão dos agentes da instituição contra a autodefesa da pessoa idosa ao dever de obediência exigido pela segregação asilar. Essa repressão é estabelecida desde o estabelecimento da regra dos agentes que se deram ao fundar a instituição. Os membros desse grupo assumem uma organização e uma discriminação hierárquica onde o papel de cada indivíduo é determinado pela relação dominação-submissão. Junta médica, psiquiatras, sanitaristas, voluntários, agentes religiosos, e seguranças determinam uma situação assimétrica de poder onde a ordem é manifestada enquanto relação comando-obediência. Esta, por vezes, até é justificada como negativa, porém dita necessária para regular os comportamentos. Essa necessidade de regular se realiza enquanto meio de ocultamento das suas razões profundas: a "naturalização" da dominação sobre a autodeterminação e a autodefesa da pessoa idosa contra a negação de sua subjetivação contruída ao longo de sua vida.

O processo de "naturalizar" é progressivo e inclui uma programação, tanto dos aspectos físicos, quanto dos aspectos pasicológicos. Até o carisma é utilizado como força de integrar uma autoridade "natural" do tipo paterna na pessoa idosa. A destreza manual, a força física, o controle emocional, a experiência, o nível escolar são utilizados como instrumentos de legitimação da dominação. A coação e a repressão exercidas são legitimadas por pertencerem ao campo institucional do poder organizado e gerido. Mero reflexo do parâmetro onde uma sociedade só pode ser organizada como instituição, obrigação social e dever de obediência individual. Os horizontes de vida da pessoa idosa são integrados na instituição asilar de modo que seu comportamento é sempre lançado contra ela pela equipe dirigente. Como base para castigos e sanções encontra-se as mais diversas situações, tais como, o mau humor, a insolência, palavrões resmungados, etc.

Outro ataque sutil sofrido pelo indivíduo idoso pode ser nomeado como "tiranização dos atos". Aqui é a autonomia do ritmo pessoal que é violada e violentada. É retirada da pessoa idosa os atos de decidir sozinha, de regular suas ações, de equilibrar suas necessidades e objetivos e de escolher seu modo de eficiência. Na "tiranização dos atos", os regulamentos e a rotina são impostos de modo a serem aceitos sem se pensar sobre eles. É obrigação pedir permissão. A história de vida formadora do indivíduo idoso, é desconsiderada como possibilidade deste ser livre e dele ser capaz de pensar a liberdade. As atividades que se pode fazer sozinha no mundo externo sofrem interferências da equipe diretora, e a dignidade do agir autônomo é oprimido e negado diante da instituição. O contexto de suas ações passam a ter um único sentido, o contexto institucional. A representação individual passa a conter o caráter normativo das regras. Ir ao banheiro, barbear-se, telefonar, dar um passeio, etc., passam a ser determinados por uma rede institucional de significações.

O confisco da capacidade autônoma do ritmo pessoal transforma essa capacidade em dependência "natural da idade". Senão uma glória para legitimar a existência de um poder institucionalizado. A pessoa idosa torna-se alguém obediente e temerosa. Qualquer ato seu lhe conecta ao cumprimento de seu dever, ao mesmo tempo que lhe desconecta de ser um agente empírico, sujeito da palavra, do pensamento e da vontade. Retira-lhe sua qualidade empírica e atribui-lhe uma forma hipostasiada. Passa a ser um novo sujeito, só que não mais histórico. Sua autonomia e autodeterminação são generalizados. Definidas pela finalidade da instituição e pela intencionalidade da equipe dirigente. A modo de ser da segregação asilar das "casas de repouso", é a necessidade de atuação permanente, persistente e consciente, do não enfrentamento dos problemas cruciais ao envelhecimento. A fim de encobrir sua grande razão de ser que é, a obrigação e o dever da renúncia da pessoa idosa à adesão ao viver como experiência de plenitude e aceitação integral dos aspectos problemáticos e até perigosos da existência.

________________
Foto: Aguigui Mouna (1911-1999)
Ecologista, filósofo e anarcoindividualista

Leia Mais ►

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO