Antisegregação Asilar

Movimento pela valorização afirmativa de que a organização pessoal da pessoa idosa faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 5]: FRACASSO PERMANENTE

A tristesa, melancolia e lamentação são sintomas da sensação de fracasso existencial. A percepção de que envelhecer é sinônimo de desgraça pessoal. A tática atual de mascarar tal sensação é trocar os nomes "velhice" por "terceira idade" e "asilo" para casa de repouso. Não interessa a nomeação, o asilamento é o momento pedagógico da sociedade do educar para a piedade de si mesmo/a. É neste momento que a história de uma vida começa a ser resignificada nos termos da saudade de um tempo perdido. Assim, o presente torna-se passar o tempo. O vivido não é mais possível. Já passou. O agora é um exílio da vida.

As táticas dos asilos, de que o presente da pessoa idosa não seja vivido, são evidentes em suas chamadas atividades de distração e entretenimento. Bailes, corais, educação artística, jogos e brincadeiras ao ar livre, hora de leitura, hora de ver televisão, tudo isso utilizado como instrumentos para retirar a pessoa idosa de suas condições de decisões pessoais. A vida de quem foi asilada torna-se um imenso deserto com pequenos oásis de atividades vibrantes e entorpecedoras. Resultado: jamais se terá momentos para planejar e decidir o momento da saída.

Não há asilo, ou casa de repouso, como queiram chamar, preocupados em fortalecer os mecanismos de autodeterminação da pessoa idosa. O sentimento de ser vivente pleno e pró-ativo é substituído pela amargura e pela sensação de fracasso. A idéia de reduzir o estigma do envelhecimento não é encarado com o devido cuidado e rigor. Caso contrário a preocupação central seria a de tornar possível o fortalecimento, ou a aquisição, de hábitos exigidos de um modo amplo pela sociedade. Assim, o envelhecimento torna-se o movimento gradual de passar do topo de um mundo grávido de possibilidades para o topo de um pequeno mundo rebaixado.

O fracasso torna-se premanente. Pois trata-se do saber em que medida estar segregado/a em uma casa de repouso favorece e conserva a vida. É a sensação de que não se pode mais medir o mundo a partir de condições de vida ousadas e corajosas. Toda "solidariedade", "amor" e "cuidado" pela pessoa idosa chega a hipnotizá-las, a ver a velhice pelo seguinte falso prisma: a vida deve ser vivida à qualquer custo.

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*Foto: Edgar Rodrigues (1921-2009)
Historiador e Anarquista Português

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