Antisegregação Asilar

Movimento pela valorização afirmativa de que a organização pessoal da pessoa idosa faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 2]: ATAQUE CONTRA O INDIVÍDUO

Círculo reativo. Eis o nome do primeiro ataque sutil sofrido pelo indivíduo idoso ao estar aos cuidados de uma "casa de repouso" (asilo). Esse ataque contra o indivíduo se caracteriza como a repressão dos agentes da instituição contra a autodefesa da pessoa idosa ao dever de obediência exigido pela segregação asilar. Essa repressão é estabelecida desde o estabelecimento da regra dos agentes que se deram ao fundar a instituição. Os membros desse grupo assumem uma organização e uma discriminação hierárquica onde o papel de cada indivíduo é determinado pela relação dominação-submissão. Junta médica, psiquiatras, sanitaristas, voluntários, agentes religiosos, e seguranças determinam uma situação assimétrica de poder onde a ordem é manifestada enquanto relação comando-obediência. Esta, por vezes, até é justificada como negativa, porém dita necessária para regular os comportamentos. Essa necessidade de regular se realiza enquanto meio de ocultamento das suas razões profundas: a "naturalização" da dominação sobre a autodeterminação e a autodefesa da pessoa idosa contra a negação de sua subjetivação contruída ao longo de sua vida.

O processo de "naturalizar" é progressivo e inclui uma programação, tanto dos aspectos físicos, quanto dos aspectos pasicológicos. Até o carisma é utilizado como força de integrar uma autoridade "natural" do tipo paterna na pessoa idosa. A destreza manual, a força física, o controle emocional, a experiência, o nível escolar são utilizados como instrumentos de legitimação da dominação. A coação e a repressão exercidas são legitimadas por pertencerem ao campo institucional do poder organizado e gerido. Mero reflexo do parâmetro onde uma sociedade só pode ser organizada como instituição, obrigação social e dever de obediência individual. Os horizontes de vida da pessoa idosa são integrados na instituição asilar de modo que seu comportamento é sempre lançado contra ela pela equipe dirigente. Como base para castigos e sanções encontra-se as mais diversas situações, tais como, o mau humor, a insolência, palavrões resmungados, etc.

Outro ataque sutil sofrido pelo indivíduo idoso pode ser nomeado como "tiranização dos atos". Aqui é a autonomia do ritmo pessoal que é violada e violentada. É retirada da pessoa idosa os atos de decidir sozinha, de regular suas ações, de equilibrar suas necessidades e objetivos e de escolher seu modo de eficiência. Na "tiranização dos atos", os regulamentos e a rotina são impostos de modo a serem aceitos sem se pensar sobre eles. É obrigação pedir permissão. A história de vida formadora do indivíduo idoso, é desconsiderada como possibilidade deste ser livre e dele ser capaz de pensar a liberdade. As atividades que se pode fazer sozinha no mundo externo sofrem interferências da equipe diretora, e a dignidade do agir autônomo é oprimido e negado diante da instituição. O contexto de suas ações passam a ter um único sentido, o contexto institucional. A representação individual passa a conter o caráter normativo das regras. Ir ao banheiro, barbear-se, telefonar, dar um passeio, etc., passam a ser determinados por uma rede institucional de significações.

O confisco da capacidade autônoma do ritmo pessoal transforma essa capacidade em dependência "natural da idade". Senão uma glória para legitimar a existência de um poder institucionalizado. A pessoa idosa torna-se alguém obediente e temerosa. Qualquer ato seu lhe conecta ao cumprimento de seu dever, ao mesmo tempo que lhe desconecta de ser um agente empírico, sujeito da palavra, do pensamento e da vontade. Retira-lhe sua qualidade empírica e atribui-lhe uma forma hipostasiada. Passa a ser um novo sujeito, só que não mais histórico. Sua autonomia e autodeterminação são generalizados. Definidas pela finalidade da instituição e pela intencionalidade da equipe dirigente. A modo de ser da segregação asilar das "casas de repouso", é a necessidade de atuação permanente, persistente e consciente, do não enfrentamento dos problemas cruciais ao envelhecimento. A fim de encobrir sua grande razão de ser que é, a obrigação e o dever da renúncia da pessoa idosa à adesão ao viver como experiência de plenitude e aceitação integral dos aspectos problemáticos e até perigosos da existência.

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Foto: Aguigui Mouna (1911-1999)
Ecologista, filósofo e anarcoindividualista

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