Antisegregação Asilar

Movimento pela valorização afirmativa de que a organização pessoal da pessoa idosa faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Da "Casa de Repouso" [parte 1]: O INDIVÍDUO

Para início de um bom diálogo, façamos uma boa avaliação conceitual. Limpemos todo entulho possível para que tenhamos uma percepção mais refinada do problema. Comecemos, portanto, pela noção de "eu".

O "eu" que nos interessa aqui pensar, não é um "eu" pensado da perspectiva romântica, cósmica, abstrata e alheia ao "eu" concreto de "carne e osso". O "eu" que nos interessa aqui pensar é aquele que não possui uma energia infinita, que é limitado, efêmero e cambiante. Uma realidade que não basta apenas ser colocada à pensar, é necessário colocá-la a atuar. Assim, nossa compreensão se inicia no dilema crucial de nossa existência que é: auto-afirmar-se ou morrer.

A antítese do dilema acima enunciado é tudo aquilo que se apresenta como um movimento de desapropriação do indivíduo. Tal é facilmente identificado enquanto coisa estática, estereotipada, essencializada e sacralizada. Quanto mais algo é apresentado como estrutura ou como sistema, mais opressão é exercida contra o "eu" concreto. Quanto mais leis, ditames, doutrinações e monopólios, aceitos socialmente a partir de imposições de intelectuais, professores/as, juristas e/ou de lideranças religiosas, mais a sociedade se coloca como força radicalmente contra o indivíduo.

Sem exagerármos, nem caírmos na ilusão de um poder que não temos, agora pensemos: Que tipo de decisão voluntária, imaginada na juventude, que estabelece, como meta, passar meus últimos dias confinado em uma "casa de repouso"? O conjunto de experiências e a organização pessoal, construída à longos anos, será respeitada fora de meu ambiente familiar? Me será perguntado se quero passar por alguma desculturação individual ou assimilação para que eu seja "bem" acomodado em alguma "casa de repouso"? Porque terei de abrir mão da concepção de "mim mesmo"em prol de uma padronização institucional? Faz parte de meu ciclo vital ser separado do mundo exterior e ter que viver o resto de minha vida fazendo testes de obediência? Em uma "casa de repouso" meu último suspiro de liberdade será: "esquecer" de tomar corretamente meus remédios? beber e fumar escondido? não me alimentar adequadamente? me expor à correntes de ar? fazer todas as coisas que sei não conseguir aguentar mais? ficar desleixado em relação à minha higiene? Enfim, meu último suspiro de liberdade se reduzindo à tentativa de me livrar de minha própria vida?

O "eu" é limitado, perece e envelhece. Se nesse ciclo de vida minha auto-afirmação deve sucumbir face aos esquemas predeterminados, toda a sociedade na qual faço parte está fundamentada sobre a minha resignação. Portanto, é a mortificação do indivíduo sua meta mais elevada. E qualquer asilo que queira mudar de nome para "casa de repouso", não deixa de ter a tirania como base. Minha história de vida é muito mais do que um mero dossier à disposição da equipe diretora dessas instituições de confinamento.

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foto: Juan Manuel Molina Mateo (Juanel)
Militante libertário da Catalúnia

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