Antisegregação Asilar

Movimento pela valorização afirmativa de que a organização pessoal da pessoa idosa faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Qual o seu modelo de "cuidar" da pessoa idosa?

Ao decidirmos encarar de frente nossas questões cruciais, referentes à nossa trajetória do berço ao túmulo, logo vemos que o modo que cuidamos uns dos outros é medida real de nossa riqueza social. Se não cuidamos direito dos membros de nossa sociedade, certamente esta é uma sociedade miserável. Mesmo que sua cultura seja riquíssima em instituições, tecnologia e entretenimento. Mas, antes de proseguirmos vale aqui uma importatíssima ressalva! Fazemos uso das palavras "miséria" e "riqueza" de modo apenas ilustrativo, pois a relação de cuidado entre membros de uma sociedade nada tem a ver com um problema de economia! Pois bem, sendo assim, fiquemos alerta quanto ao uso da palavra "cuidado", a qual, no modelo da relação econômica, é entendida como investimento, gasto ou perda. O que é o caso em nosso mundo atual, onde o valor de uma vida é estabelecido pelos meios de produção e troca de mercadorias.

Para proseguir nossa conversa, a sociedade não é composta somente por "pessoas economicamente ativas". O número desse tipo de pessoa é menor que o tipo de pessoas que vivem em um conjunto de atividades não produtivas - no sentido econômico do termo. Crianças, adolescentes, desempregados, sem terra e pessoas aposentadas ilustram bem esse composição social. Em nossa sociedade é comum pensar que há alguns que trabalham para sustentarem a vida de outros. Como consequência cria-se espécies variadas de segregação. Uma das mais perversas segregações - e aqui suspendemos temporariamente a discussão sobre outras - dizem respeito a quem não consegue mais trabalhar devido ao avanço da idade. É exatamente neste caso que a miséria de nossa sociedade atinge seu ápice: os cuidados dos"economicamente ativos", ou em outra palavra, os jovens, em relação aos "economicamente não ativos", ou seja, aos mais velhos ou "aos aposentados".

Que modelo de "cuidados" são esses? Serviços hospitalares? Seguros-saúde? Benefícios de uma previdência social? Planos privados de aposentadoria? O perverso disso tudo é que tal modelo de "cuidar" está fundamentado numa noção muito pobre de qualidade de vida: o conforto reduzido a sua dimensão material mais básica - comida, remédios, roupas, higiene e moradia. Agravando ainda mais essa redução, uma fração organizada da sociedade cria uma horrenda situação paliativa: instituições filantrópicas, em quase 100% delas religiosas, com o intúito de amparar pessoas idosas abandonadas pelo mundo da família, cujo valor se estabelece na idéia de que a pessoa idosa é um fardo devido a frenesia do mundo contemporâneo. Os ditos valores cristãos, como amor e caridade, aos serviços do modelo segregacional, em nossos termos, aos serviços da segregação asilar. Onde a velhice é tratada como uma angustiante sala de espera para a morte.

O que fazer, então, frente a esse modelo de "cuidar" (segregação asilar) da pessoa idosa? É necessário transformá-lo! Não só no que diz respeito às condições materiais e existênciais dos "cuidados" praticados pelas ditas, de modo a mascarar questão tão crucial, "casas de repouso", é necessário uma radical transformação social! Esta iniciando na idéia de que a sociedade é seus membros, passando pela reavaliação do papel social da pessoa idosa, continuando pela resignificação de se "estar aposentado", a voltar ao início qualificando a vida para além das condições materiais supridas. O que proposmos fazer é a valorização afirmativa de que a organização pessoal do indivíduo idoso faz parte de uma sistemática dinâmica mais ampla, encaixada no ambiente social global. Portanto, nos é necessário e imperioso iniciarmos um Movimento Anti-segregação Asilar.

Dolors Prat Coll (1905-2001)
Militante Anarcosindicalista

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